Monday 9 April 2007

Frustação

Vocês não vao acreditar no que me aconteceu, a mim não admirada nada, alias até estava espantada como não me tinha acontecido antes.
Estava a escrever um novo Post, que não era nada mais nada menos que o meu melhor Post e quando estava a rele-lo resolvi tocar num botão que não conhecia antes de o gravar e "puft", milhares de palavras, sentimentos, comentários, pensamentos, perderam-se no espaço cibernáutico, 1h30 hora da minha vida a escrever para nada ainda por cima estava tão engraçada, quase hilariante...estou tão triste que até já chorei de raiva. Devia estar a tentar recuperar alguns dos raciocionios, mas não me apetece pensar mais nele, apetece-me cruzar os braços e fazer beicinho.
Hoje estou inspirada e amanhã? não se esqueçam que já não escrevia há uns 4 meses...isso quer dizer muita coisa não acham?
beijinhos secos até breve

11 comments:

main mense said...

É uma situação tramada e deveras frustrante. É como aquela pintura que apesar de perfeita nunca foi vista por ninguém - Isso faz dela uma pintura? Ela de facto existe? É uma frustração.
No seguimento da nossa conversa de ontem vou tentar arriscar aqui um roteiro literário para si. Como gosta muito de pintura e pratica-a com bastante regularidade, vou pegar em alguns pintores e associa-los a obras literárias, a livros que de alguma forma me remetam para o universo patente no quadro.
Ontem mencionou o Munch e o quanto gostava dele e do movimento artístico a que está associado.
Quando olho para os quadros do Munch e particularmente para o grito, penso nos escritores de leste e na agonia social em que viviam e que servia de inspiração para as suas obras. Penso num livro que lhe aconselho vivamente e que se lê num ápice. Então prepare-se:
Munch = Crime e Castigo do Dostoievsky.
Trata-se de uma obra agonizante sobre o suposto crime perfeito. O personagem principal, Roskolnikov (espero que esteja bem escrito) é um sujeito desiquilibrado que vive no seu mundo e toda a sua planificação do crime é furada no momento da sua realização. A própria planificação do crime é absolutamente doentia e sem qualquer nexo, sujeito a todos os devaneios momentâneos do personagem principal. Se a planificação já é doentia, imagine o momento do crime - Sai tudo ao contrário e o que torna muito interessante este livro é ver as soluções de remedeio que o personagem vai arranjando para justificar os seus erros. Tudo isto acompanhado de descrições absolutamente brilhantes e agonizantes.
É um livro que me marcou e que me despertou para os clássicos, em particular para este autor.
Vá-me dando pistas dos seus pintores para eu lhe aconselhar os livros que possivelmente possam relacionar-se com os seus quadros.

Sofia Novais de Paula said...

O livro parece-me bastante interessante, vai já para o "carrinho das compras" :)...deixe-me pensar noutro pintor...ou num quadro...Marc Chagal, foi um pintor revelação, gostava da sua obra mas quando a vi ao vivo e a cores no museu judeu em NY, fiquei fascinada, os seus quadros são enormes, parece que estamos dentro das telas e que fazemos parte da cena, a imaginação e fantasia do pintor dá uma sensação de liberdade, leveza, de amor. Falando de amor é linda a sua dedicação à sua mulher.
Fico a aguardar a sua nova dica
não se esqueça de ler o "Candido" de Voltair

main mense said...

Ah... Chagall... Um pintor extraordinário que me marcou para sempre com um quadro - O beijo (aquele em que o noive está ar todo trocido a beijar a noiva). É um quadro impressionante, muiot bonito e extremamente romântico, quase a tocar o naif, mas com força suficiente para se assumir como um chagal.
Chagall era também uma personagem muito interessante, oriundo da rússia, mas que desenvolveu todo os seu trabalho em paris, sempre com referências à sua terra mãe. Um pintor de facto excepcional de quem eu gosto bastante.
Um livro que faça lembrar o chagall... hum... difícil e arriscado, pois terá de ser um romance, definitivamente, mas não poderá ser de cordel, nem gratuito. Tem de celebrar o amor, mas não pode ser piegas. Tem de ser verdadeiro, mas não necessariamente realista. Tem de ser... hum... verosímel, ou seja, embora não seja real, poderia ser.
Tá difícil...
Chagall = Siri Hustvedt
Esta escritora é verdadeiramente fora de série e o livro que eu li dela (aquilo que eu amava) foi uma revelação. Com um ritmo calmo, palavras e frases muito bem escolhidas, cirúrgicas mesmo, para descrever emoções e estados de alma, foi um verdadeiro prazer ler as mais de 400 páginas deste livro.
Ela é mulher do paul auster (outro autor de quem eu gosto muito) e representa muito bem o universo do chagall, se bem que ainda lhe falta um pouco de magia quando comparada com os quadros. Mas mesmo assim é um livro tremendo.
Fica aqui a sinopse
Beijinhos

Sinopse aquilo que eu amava de Siri Hustvedt
Nova Iorque, 1975. Numa galeria de arte, no Soho, Leo Hertzberg apaixona-se por um quadro, compra-o e decide procurar o seu autor, Bill Wechsler. O encontro entre eles vai dar início a uma amizade que vão manter até ao fim das suas vidas.

Pela voz de Leo, e com o universo altamente simbólico do competitivo e caprichoso meio artístico nova-iorquino como pano de fundo, é-nos desvelada uma história de paixão e tragédia que abarca vinte e cinco anos e envolve o narrador, a sua mulher, Erica, professora de Literatura, a amizade com o provocador Bill, a paixão que secretamente nutre pela musa e segunda mulher deste último, Violet, e os filhos de ambos, Matthew e Mark.

Uma intrincada constelação de ligações que permite a construção de um perturbante léxico de obsessões eróticas e insinuações de violência, à medida que a sua labiríntica história se desenrola e percorre as sinuosidades de um trajecto tão irremediável quanto humano. Ao juntar as vulgares tormentas da vida familiar, as sensibilidades acentuadas dos artistas e uma criminalidade grotesca e surpreendente, Siri Hustvedt leva a cabo uma reflexão sobre o lado negro dos laços familiares, da criatividade e do pesado fardo do amor.

Sofia Novais de Paula said...

Está a ser muito divertido esta troca de conhecimentos.
Gostava de lhe lançar um novo desafio: Frida Kahlo, aqui está outro exemplo de como a vida do autor nos ajuda a gostar, entender e imortalizar a sua obra. É impossivel ficar indiferente à história desta mulher, desculpem Mulher. Com uma força de viver, uma vontande de não se privar da sua arte da sua imaginação. É dos poucos artistas que consegue descrever através da pintura os factos, os sonhos, as aspirações, o que a rodeia, o que sente, com uns traços naife ou chocante, grutescos ou brilhantes.
Pedro apartir daqui é consigo...

Unknown said...

4 meses depois!! Welcome back...
Mas sem beicinho... ok?

Bjs
70s

main mense said...

Frida Kahlo. Muito bem escolhido, tenho de lhe dizer. Antes de mais esta personagem era muito interessante não só pela produção de arte mas também por tudo o que a rodeava.
Julgo que foi puxada para o feminismo e para os direitos das mulheres um pouco injustamente. Julgo que a sua pintura era ma expressão da liberdade humana, antes da liberdade das mulheres. Veja bem... Ela pouco tinha a ver com a imagem intitucionalizada da mulher, vivia supostamente no país errado (méxico), era de esquerda (recebeu em sua casa o refugiado e perseguido pelos bolchviks - trotsky) e vivia com o diego rivera, esse grande vulto da pintura muralista (a propósito, já viu quadros do rivera? também são muito bons).
Tudo estava ao contrário (a figura humana, as convicções políticas, o local errado e a sombra do seu marido/namorado), mas ela deu a volta por cima não de uma forma forçada, mas sim de uma forma natural em que a prioridade era exprimir-se como queria e como achava, sem espartilhos sejam eles de que natureza forem (sociais, políticos, geográficos e mesmo artísticos). A condição de mulher era o que menos importava, se bem que contava também. Frida será um sinónimo de liberdade de expressão e de desinstitucionalização (que aliás todos nós bem precisamos).
Ligar um obra literária a esta força da natureza é complicado, mas possível. Vamos lá ver então...
Hum
Frida Kahlo =

main mense said...

Um pouco de suspense faz bem, não acha?
Bom, então vamos a isto...
Frida Kahlo = Hugo Pratt
Esse grande autor de banda desenhada que criou uma personagem magistral e única: O grande Corto Maltese, sinónimo de liberdade, aventura e harmonia.
Discorrer ao longo do texto que o autor cria para sustentar esta personagem é algo de maravilhoso, arriscaria mesmo, algo de poético. Há uma poesia em Corto Maltese, da mesma forma que ela está em Frida. Não existem mais personagens como Corto porque ele é único, tal como Frida.
Aventure-se por este universo e vai ver que vai ficar agarrada à exclência dos textos, do traço e da pesquisa que Pratt faz para sustentar as aventuras de Corto. Penso que é uma boa ligação e se nas suas viagens pelas caraíbas Coroto fosse um pouco mais para cima, provavelmente tomaria um Chá com Frida, Rivera e Trotsky. Provavelmente não, tenho a certeza que isso aconteceria.

Peixinho Dourado said...

Tambem gostei muito de te "ver" por aqui outra vez... Já que nunca nos vemos (parece impossivel lol), sempre vou sabendo algo de ti :)
Muitos jinhos!

Sofia Novais de Paula said...

Peixinho quem és tu?

Sofia Novais de Paula said...

Meu caro Pedro, as suas sugestões literarias parecem-me fascinantes, após uma ausencia de 1 mês lanço-lhe aqui um novo desafio...Já foi o meu pintor favorito até terem comercializado a sua obra, foi o meu "louco" favorito até ter conhecimento da sua debilidade e falta de altoestima e ter sido dominado e humilhado pela sua mulher....tcham...tcham...tcham...tcham...O grande Salvador Dali!

main mense said...

Dali é um pintor tramado. Na verdade não aprecio muito a sua obra, no entanto tenho de me vergar perante a sua mestria no desenho e na execução. Poucos são os pintores com uma capacidade de transformar como o Dali. As suas pinturas não são digestivas para o meu estomâgo. São muito intrincadas e se bem que demonstram harmonia nos elementos, essa harmonia roça a demência. No entanto existe um quadro do Dali que sempre me fascinou e é um dos poucos quadros que está omnipresente no meu sub-consciente. Falo da crucificação de cristo visto de cima (não me lembro do título do quadro). Conhece? É espantoso, tecnicamente perfeito e com um poder sugestivo assombroso. Os seus tons fazem lembrar os quadros tenebristas e as suas sombras fazem lembrar o caravaggio (que a propósito é também um pintor impressionante).
A sua irreverência sempre me pareceu artificial, o que a sê-lo verdadeiramente a tornaria muito mais interessante. Mas Dali nunca desarmou. sempre fez daquela loucura um espelho da sua vida. Deve ter sido o primeiro pintor pop, pela sua forma de abordar o público e os meus de comunicação e aí foi verdadeiramente original. Arrogante mas sempre com piada e apesar de tudo original sempre carregou a sua vida ao lado da sua obra, o que é sempre um risco pois se a sua obra não está considerada arrisca-se a tornar um flop para todos. Quem o salvou foi de facto a sua obra que é extraordinária, apesar de, reafirmo, eu não apreciar muito. Foi rotulado como o pai do surrealismo na pintura, rótulo esse que ele próprio declinou e que na minha modesta apreciação o fez muito bem. A pintura dele parece-me mais profunda e alberga muito mais do que o rótulo do surreal. É uma espécie de "mentalista". Joga com artifícios da mente e aí tenho que reconhecer que é um verdadeiro mestre.
Escolher um escritor para acompanhar este sujeito não é muito fácil. Vamos pensar um pouco. A escolha mais lógica seria indicar-lhe um surrealista como o Almada negreiros, mas não vou fazer, pois seria muito óbvio e um pouco desonesto pois na verdade (ainda) não consigo tirar prazer deste autor ou de qualquer outro autor surrealista. Por isso tenho de pensar mais um pouco... Hum...
Bolas, agora é me tramou verdadeiramente...
Dali = Italo Calvino
Destaco principalmente o seu fascinante livro "Se numa noite de inverno um viajante..."
Um livro verdadeiramente notável onde calvino começa 10 (ou mais, já não me lembro muito bem) vezes uma história e que consegue abarcar vários estilos ao longo da sua prosa. Revela uma facilidade na escrita absolutamente invejável e uma desconstrução dos estilos literários única. Este livro prima pela sua originalidade e é um verdadeiro desafio às regras que tomamos como certas. É uma espécie de pauta musical para uma Jam session, o que se afigura impossível, mas que Calvino muito habilidosamente consegue com este livro.
Dali era um pouco assim. Mostra-se sem regras, irreverente, mas no fundo quer as suas fulgurantes aparições, quer a sua obra revela o espirito de um verdadeiro operário, consciente de todos os passos que está a dar e muito científico.
Também Calvino se mostra assim através deste livro.
Fica aqui um resumo do "se numa noite de inverno um viajante":

"Se Numa Noite de Inverno Um Viajante", publicado em 1979, assinala um regresso vigoroso e audaz de Italo Calvino (1923-1985) à escrita, após uma paragem de sete anos, e ao mesmo tempo, o término de um excepcional percurso literário, com um romance sobre o prazer da leitura. Nesta obra labiríntica de carácter experimental, existem dez princípios de romances distintos entre si, conectados pelo fio condutor de uma história posterior que, através das aventuras de um Leitor e de uma Leitora, nos conduz de uma para outra dessas partes iniciais que tinham sido interrompidas. O sentimento de frustração que Calvino maliciosamente confere ao Leitor e à Leitora, quando confrontados com a interrupção súbita das histórias, passa igualmente a ser a do leitor comum.